terça-feira, outubro 23, 2007


Países Ensaiam a Unificação Ortográfica

Em 1990, sete dos oito países que têm a Língua Portuguesa como oficial assinaram um acordo para unificar a ortografia. São eles: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal,e São Tomé e Príncipe.

Em 2004, foi a vez de Timor-Leste. As mudanças não significam a uniformização da língua Portuguesa porque a pronúncia, o vocabulário e a sintaxe permanecem como estão. O que muda é apenas a forma de escrever algumas palavras.

A reforma vem sendo discutida há mais de duas décadas. A decisão sobre o que mudar foi tomada em conjunto pela Academia Brasileira de Letras, a Academia das Ciências de Lisboa e representantes dos países africanos. Evanildo Bechara, da ABL explica que os critérios para as novas regras não são científicos, já que quando se fala de ortografia pensa-se numa convenção que determinado povo adota para se comunicar pela escrita, que não precisa ser a tradução fiel da fala. "A ortografia é, na medida do possível, a combinação entre a etimologia e a pronúncia."

Depois de assinado o acordo, houve um protocolo modificativo em 2004, indicando que a unificação entraria em vigor com a ratificação de três países, o que já ocorreu no Brasil, em Cabo Verde e em São Tomé e Príncipe. Tecnicamente, a reforma está em vigor desde janeiro de 2007.

Porém não há previsão de quando o acordo será oficializado no Brasil. O Ministério da Educação (MEC) sinalizou para 2009, mas ainda há negociações com as editoras dos livros didáticos a fim de definir o período exato de transição. "Esse edital, para os livros que serão usados em 2009, deve ser fechado com as novas regras", afirma o assessor especial do MEC, Carlos Alberto Xavier.

É pela sala de aula que a mudança deve mesmo começar, afirma o embaixador Lauro Moreira, representante brasileiro na CPLP (Comissão de Países de Língua Portuguesa). "Não tenho dúvida de que, quando a nova ortografia chegar às escolas, toda a sociedade se adequará. Levará um tempo para que as pessoas se acostumem com a nova grafia, como ocorreu com a reforma ortográfica de 1971, mas ela entrará em vigor aos poucos."

António Ilharco, assessor da CPLP, lembra que é preciso um processo de convergência para que a grafia atual se unifique com a nova. "Não se pode esperar resultados imediatos." O ideal seria que a nova ortografia começasse, também, nos outros cinco países que falam português (Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste). Mas eles ainda não ratificaram o acordo.

"Hoje, é preciso redigir dois documentos nas entidades internacionais: com a grafia de Portugal e do Brasil. Não faz sentido", afirma o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça.

Para ele, Portugal não tem motivos para a resistência. "Fala-se de uma pressão das editoras, que não querem mudar seus arquivos, e de um conservadorismo lingüístico. Isso não é desculpa", afirma.

Um dos grandes argumentos de defesa do acordo ortográfico refere-se ao aspecto geopolítico. "Queremos preservar a diversidade do idioma, mas fortalecê-lo no âmbito mundial", justifica Luiz Fonseca, secretário geral da CPLP. "Um idioma com uma única escrita pode ser divulgado com mais rapidez, facilitando o intercâmbio cultural."

Os impactos das modicações são difíceis de avaliar. No século passado, houve duas reformas: uma em 1943 e outra em 1971. Carlos Alberto Xavier, assessor especial do MEC, diz que os professores serão orientados sobre as regras, na época da oficialização dos acordos. E durante um período mínimo de dois anos, as duas ortografias serão consideradas corretas.

Afinal, O Que Muda ?

HÍFEN - Não se usará mais:

Quando o segundo elemento começa com s ou r, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom".
Exceção quando os prefixos terminam com r como em "hiper", "inter" e "super".
Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada".

TREMA
- Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados

ACENTO DIFERENCIAL - Não se usará mais para diferenciar:

"pára" ( verbo parar) de "para" (preposição)
"péla" (verbo pelar) de "pela" (preposição com artigo)
"pólo" (substantivo) de "polo" ( preposição"por" com "lo")
"pélo" (verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (preposição com artigo)
"pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)

ALFABETO - Passará a ter 26 letras, incorporando K, W e Y

ACENTO CIRCUNFLEXO - Não se usará mais:

Nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"

Em palavras terminadas em hiato "oo", como "enjôo" e "vôo".

ACENTO AGUDO - Não se usará mais:

Nos ditongos abertos ei,oi de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia"e "heróica".
Nas palavras paroxítonas, com i,u tônicos, precedidos de ditongo como em "feiúra" e "baiúca".
Nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com u tônico precedido de g,q ou seguido de e,i como "averigúe" (de averiguar), "apazigúe" (de apaziguar) e "argúem" (de argüir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem.

In:Revista Nova Escola. Fundação Carlos Victor Civita. Ano 22, N. 206, Out. 2007.

Nenhum comentário: