terça-feira, abril 18, 2006

Livro: A Importância do Ato de Ler

O Papel da Leitura na Formação Pessoal
No livro A Importância do Ato de Ler, o autor Paulo Freire, através da exposição de três artigos, procura demonstrar como a leitura é capaz de influenciar as ações e percepções do ser humano.

Iniciando a escrita com uma prazerosa retrospectiva de sua vida, Freire destaca que a leitura está presente em todos os momentos das nossas vidas, mesmo quando ainda não somos capazes de identificar as palavras escritas. Segundo ele, antes da alfabetização, já somos capazes de perceber o mundo por meio das cores, dos gestos das pessoas, do sabor dos alimentos, das emoções e sentimentos transmitidos, etc. Assim, vamos construindo, desde bebê, a nossa percepção sobre a realidade.

Além disso, para aprendermos o alfabeto e o significado das palavras, utilizamos essas observações sobre o que ocorre ao redor. Sem isto, não seria possível aprendermos a ler. Primeiro aprendemos a sentir e observar o mundo, para depois, aprendermos a ler e escrever. A leitura do mundo precede, assim, a leitura da palavra.

Desta maneira, após sermos capazes de ler, e compreender a escrita, passamos a utilizar mais um canal, ou instrumento, para compor nossa visão de mundo. Com a leitura, temos a possibilidade de observar o que ocorre, a partir de outros pontos de vista, ou seja, a partir da leitura de textos escritos por diferentes pessoas.

Não há como negar que a leitura permite entender, de forma mais completa, os acontecimentos da realidade. Através dos jornais e revistas impressos, o ser humano pode conhecer os fatos correntes do mundo e assim, desenvolver uma visão mais crítica a respeito da sociedade. Somente a partir desta visão, o homem pode exercer o verdadeiro papel da cidadania, contribuindo, através das suas ações, para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e menos desigual.

A partir desta idéia, vemos como a leitura é importante para o desenvolvimento e a manutenção de um país. Se as pessoas não são capazes de analisar os fatos, a partir de outros pontos de vista, elas não estarão aptas a ajudar no desenvolvimento de uma sociedade. Ou seja, elas não serão capazes de perceber os diferentes interesses políticos dos governantes, a busca, incessante, pelo lucro nas empresas, a necessidade de se diminuir a agressão ao meio ambiente, a falta de ação da sociedade, entre outras questões. Assim, essas pessoas não são capazes de agir, de alguma maneira, a favor das comunidades.

Como podemos pensar, então, em desenvolvimento dentro de um país, em que grande parte da população não tem capacidade de ler? Como podemos pensar em modernização, se a pequena parte da sociedade, capaz de efetuar a leitura, a realiza, na maioria dos casos, de maneira sistemática e automatizada, sem uma, verdadeira, análise crítica dos fatos?

Realmente, é muito difícil compreender determinadas ações a favor do desenvolvimento, se a maioria das pessoas não são preparadas para conviver com a leitura. Pior do que isto, se muitas pessoas não tem acesso às instituições de ensino e, quando conseguem, estas se encontram em precárias condições.

Dessa forma, Freire acredita que para inverter esta situação, é importante existir a alfabetização de adultos e a criação de bibliotecas populares, onde as pessoas possam ter acesso a bons livros e manter uma certa regularidade na leitura. Mas, segundo ele, também é importante que a metodologia utilizada para ensinar essas pessoas, não seja aquela que mais esconda a verdade do que possibilite a sua ascensão. O ato de ler deve ser encarado como um ato de adquirir conhecimento. Portanto, deve ser ensinado como um ato criador, político, em que a reflexão sobre os fatos e a realidade esteja sempre presente.

Pensando nisto, Freire desenvolveu um método próprio de alfabetização para adultos. Nele, o autor procurou utilizar palavras e frases presentes, diariamente, na vida dessas pessoas, para que assim, elas tenham mais interesse no aprendizado e não acredite que este ato é desconectado da realidade, ou seja, que eles não poderão fazer uso deste na vida comum, melhorando e aprimorando as suas habilidades. As pessoas precisam acreditar que o estudo é capaz de trazer benefícios práticos em suas vidas. Assim, elas passam a acreditar que vale a pena se dedicar e se esforçar.

Freire procura construir textos, para que os alunos, a partir destas leituras, se tornem mais críticos em relação aos diferentes acontecimentos da realidade. No material didático, ele escreve, por exemplo, que nós aprendemos a ler para discutirmos sobre os interesses de nosso povo. Aprendemos a ler e escrever para aprendermos a pesar certo, para compreendermos melhor a luta a fim de se criar uma sociedade mais justa, uma sociedade sem explorados e exploradores, uma sociedade de trabalhadores. Para isto, torna-se necessário, então, a disciplina e o estudo.

Paulo destaca temas como: o ato de estudar, a luta pela libertação, a reconstrução nacional, o trabalho, o processo produtivo, o povo e a cultura, a sociedade nova, o homem e a mulher, entre outros. Dessa forma, ele desafia as pessoas a pensar, a analisar a realidade, e não apenas a memorizar palavras e letras através da leitura.

Assim, a partir da análise deste livro, acredito que Freire contribuiu, de forma muito significativa, para a educação e para a construção de uma sociedade menos despreparada. Mas, apesar disso, muito pode, e deve, ainda ser feito. As escolas precisam de mais atenção, os métodos de trabalho precisam ser analisados e, em alguns casos, modificados, os professores precisam estar mais preparados, entre outras ações. Porém, a forma de ensino, proposta por Freire, estará sempre contribuindo, e ensinando, para que muitas pessoas assumam, verdadeiramente, o papel, fundamental, de agentes da própria formação pessoal.

Flávia Amazonas de Azevedo

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