terça-feira, abril 18, 2006

A Conquista da Autonomia


Pedagogia Para a Vida

Apesar de ser um livro, à primeira vista, simples, em função do tema que aborda, Pedagogia da Autonomia consegue despertar a atenção do leitor através de um texto bem estruturado, uma linguagem didática e, principalmente, através de certos questionamentos que servem como verdadeiras lições de vida para qualquer ser humano.

Paulo Freire inicia o pensamento, destacando a importância, fundamental, da educação no processo de desenvolvimento e formação do homem. Segundo ele, este ser é condicionado, desde o nascimento até a morte, a viver, eterna e continuamente, em função do processo de aprendizagem. Ou seja, segundo o autor, o bebê quando nasce, passa a viver, sempre, à procura de algo que sacie a sua vontade, natural, de aprender.

Muitos professores discutem a respeito das teorias pedagógicas. Mas, Paulo Freire destaca que o mais importante em qualquer tipo de aprendizagem, é desenvolver a capacidade humana de refletir, questionar e analisar.

Embora, em um primeiro momento, a necessidade humana de estar sempre em busca possa ser interpretada como um aspecto negativo, o autor destaca que esta é uma das maiores vantagens do homem. Uma vez consciente desta característica, o sujeito torna-se capaz de superar as dificuldades da vida e atingir os objetivos que deseja.

Para isto ocorrer, contudo, é necessário que o indivíduo entre em contato com outras pessoas, através da convivência social e, assim, utilize a linguagem para se comunicar. Desta maneira, esses seres podem transmitir informações uns aos outros e, com isso, transformar, em conjunto, os conhecimentos, adquiridos, em atividades práticas do dia-a-dia.

Neste sentido, os educadores em geral não devem afogar a liberdade do educando e discriminar o direito, inerente deste, de ser curioso e reflexivo. A condição de “não conclusão”, em que o homem se encontra, faz com que ele sinta a necessidade permanente de viver buscando, questionando e analisando os diferentes aspectos da vida.

Assim, o verdadeiro diálogo entre professores e alunos deve ser baseado no respeito às diferenças, de comportamento e conhecimento. Cada um desenvolve as suas potencialidades e habilidades de maneira particular, de acordo com o contexto, econômico, cultural e social em que vive.

Além disso, é importante destacar que a atividade de ensinar não está desvinculada da atividade de aprender. Quando convivemos em grupo, estamos, a todo instante, adquirindo novos conceitos. O professor que pensa de forma adequada, portanto, deixa transparecer aos alunos que uma das maiores alegrias atribuídas à possibilidade de viver é, antes de tudo, estar com o mundo, intervindo e conhecendo, cada vez mais, este mundo. Por isso, nas palavras de Paulo Freire, é inconciliável a ação de um bom educador e a arrogância de quem se acha “cheio de si”.

A partir deste ponto de vista, acredito que a habilidade de ensinar, e, portanto, de aprender deve, principalmente, fazer com que as pessoas aprimorarem, ao longo do tempo, a capacidade de agir e intervir, de forma influente, nos acontecimentos e fatos da realidade, criando e recriando, continuamente, o contexto da mesma.

Aprender, então, passa a ser visualizado como um processo a favor da mudança. Por isso, se faz necessário, desenvolver a habilidade de comparar, escolher, romper, decidir e estimular o processo de reflexão. Mudar é um direito de todos os seres humanos. E o papel principal do educador é, exatamente, contribuir para que o educando seja o agente principal da própria transformação, com a ajuda, e a orientação de um bom professor. Ou seja, ensinar e, conseqüentemente, aprender, não se constitui, apenas, na transmissão, ou no recebimento, de conhecimentos. Mas, principalmente, na criação de uma possibilidade individual de construir a própria sabedoria.

Flávia Amazonas de Azevedo

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